Considerado uma região brasileira historicamente marcada por grande representatividade no Festival do Folclore de Olímpia, o Nordeste chega a mais uma edição repleto de manifestações culturais para confraternizar sua tradição com os demais cantos do país.
É com essa motivação que 9 grupos folclóricos e parafolclóricos percorrerão mais de 2 mil quilômetros para se apresentar na Estância Turística de Olímpia, Capital Nacional do Folclore, durante o 59º FEFOL, de 05 a 13 de agosto, no Recinto do Folclore “Professor José Sant’anna”. Ao todo, sete estados estarão representados, trazendo três grupos que participarão pela primeira vez.
SERGIPE
Como já anunciado, é de lá que vem o homenageado da edição. O Grupo Folclórico Parafusos, de Lagarto – Sergipe, abrilhanta o cartaz da festa em 2023. Reconhecido como Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial de Sergipe, tem mais de 125 anos de história e é o único grupo do gênero existente no Brasil. Fundado por Padre José Saraiva Salomão, representam a tradição da época dos engenhos, em que os escravos furtavam as anáguas das sinhazinhas bordadas com rendas francesas e, utilizando-as cobrindo até o pescoço, fugiam à noite em busca de produtos e alimentos. Assim vestidos saíam pelas estradas, dando pulos e fazendo assombração. Com a abolição, a mística acabou, mas ficou a brincadeira, história real dos escravos, retratada pelo grupo folclórico que hoje sai para divertir o público.
Também da cidade de Lagarto, o grupo homenageado vem acompanhado das Taieiras e da Banda de Pífanos. As Taieiras são grupos formados em sua maioria por mulheres que cantam e dançam em devoção a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. A mais remota notícia das Taieirias é do século XVIII, na Bahia. No entanto, somente um século depois, em meados de 1880 é que sergipano Sílvio Romero, de Lagarto, foi encontrar mais informações a respeito do folguedo, nas festanças matrimoniais da futura D. Maria I, conhecendo a origem da dança, sua filiação, as tradições. As pesquisas confirmam que outrora, quando as sinhás brancas viviam enclausuradas nas casas grandes e nos sobrados patriarcais, os negros e mulatos das Taieiras desfrutavam o privilégio de cantar, dançar e divertir-se nas praças das igrejas e no meio das ruas. Os personagens masculinos que participam resultam na incorporação dos reis dos congos. É composto de um grupo de jogadores de espadas, mulatos, que disputavam tirar a coroa do rei e das rainhas e outros defendiam.
Já a Banda de Pífanos (Terno de Zabumba) surgiu da crença que os moradores tinham em santos que escolhiam para serem devotos e a quem confiavam que seus pedidos fossem realizados. Assim, no dia de cada santo, reuniam familiares e vizinhos para homenageá-los, improvisando caixa, tambor e gaita para alegrar a festa e, nove dias antes, começavam o novenário e, entre os cantos e louvores, eles agradeciam as bençãos recebidas e pediam proteção para um ano bom, inclusive na lavoura. Costumes que passaram de geração em geração se mantêm até os tempos de hoje, mesmo que mais modernos, sem perder a identidade.
Ainda do Estado de Sergipe, o 59º FEFOL receberá o Batalhão de Bacamarteiros, de Carmópolis, um dos mais tradicionais do festival. É datado da década de 1780, que surgiu um grupo no qual os negros dos engenhos de cana-de-açúcar, do Vale do Cotinguiba, brincavam de roda e atiravam com uma arma artesanal conhecida como Bacamarte. Assim, desde então, o grupo exibe a riqueza da cultura africana disseminada por aquela região, que é uma marca inconfundível da cultura de Carmópolis. Se apresenta nas festas juninas, embelezando o município com a alegria das roupas, com o barulho dos tiros e a graciosidade da dança e dos repentes. Nas ruas, o colorido especial das bandeirinhas, balões e fogueiras enfeitam a cidade nas festividades juninas, onde acontece o ritual do Pisa Pólvora para comemorar os Santos do mês. Para fabricar a pólvora, é utilizado o carvão produzido a partir da umbaúba, cachaça e enxofre. Atualmente, o Batalhão de Bacamarteiros possui 60 integrantes, entre homens, mulheres e crianças. Os instrumentos musicais são fabricados com a madeira do jenipapo, couro de animais e sementes. A musicalidade e o ritmo contagiante encantam todos que assistem às apresentações do grupo pelo país.
PERNAMBUCO
Continuando pelos grupos que já são grandes conhecidos do público, o Festival anuncia, mais um ano, a vinda do Papanguarte Balé Popular, de Bezerros – PE. Fundado em janeiro de 1997, pelo artista e educador Carlos Marques, o grupo é formado por estudantes e professores das redes municipal, estadual e particular do município, com o propósito de resgatar e valorizar as danças e folguedos populares da terra do papangu (Bezerros), bem como do estado pernambucano. O nome “papanguarte” vem da união das duas palavras: papangu (mascarados que saem pela cidade no período carnavalesco) e arte. Na época de Carnaval, os mascarados saboreiam a deliciosa comida típica do nordeste: o angu, surgindo assim, a figura folclórica papangu. Umas das características da agremiação é que seus bailarinos dançam mascarados como forma de resgatar, preservar e valorizar a cultura do papangu – símbolo máximo do carnaval de Bezerros.
CEARÁ
O Ceará estará representado em Olímpia pelo Grupo de Tradições Folclóricas Raízes Nordestinas, da capital Fortaleza, que já abrilhantou edições anteriores do Festival do Folclore de Olímpia. Fundado em 1996, trata-se de um grupo de pesquisa e de produção cultural, que busca promover o conhecimento sobre a cultura regional, incentivando a preservação e a valorização das raízes nordestinas, além de contribuir com a expansão da cultura cearense e desenvolver importante papel social, acolhendo adolescentes e jovens em situação de risco para o fortalecimento das relações familiares, do ensino da arte e da identidade cultural de seu povo. Dança do Coco, São Gonçalo, Cana Verde, Xote, Reisado e o famoso Xaxado fazem parte do repertório do grupo.
MARANHÃO
A cultura maranhense estará presente na Capital Nacional do Folclore com o Grupo de Bumba Meu Boi “Brilho da Luz”, da cidade de Santa Luzia – MA, que já participou de outras edições do FEFOL, em sua composição mais antiga, chamada “Boi da Luz”. Agora, com seu projeto cultural ampliado para promover ainda mais a rica cultura do Maranhão, o “Brilho da Luz”, traz a representativa história do “bumba meu boi” para abrilhantar o festival, tornando o folclore maranhense mais acessível à população. O bumba meu boi é a maior expressão cultural típica do estado, que está associada à lenda que envolve o milagre da ressurreição do catolicismo, além de englobar elementos indígenas e africanos.
RIO GRANDE DO NORTE
Iniciando as participações inéditas do 59º FEFOL, vem o folclore potiguar com o Grupo de Xaxado “Estrelas do Cangaço”, da pequena cidade de José da Penha – RN. Com 13 anos de existência, hoje o grupo tem o intuito de preservar em suas manifestações folclóricas os costumes festivos de um grupo que marcou a história do sertão brasileiro, com visibilidade nos festivais nacionais e internacionais, contendo sua maior inspiração no folclore advindo ao cangaço. O grupo se apresenta pela primeira vez em Olímpia trazendo, principalmente, o xaxado, dança típica nordestina, muito praticada pelos cangaceiros de Lampião, em especial para comemorar as vitórias. Atualmente, a prática da dança contribui de forma significativa pata manter viva a cultura e a memória de Lampião, maior cangaceiro do nordeste.
PARAÍBA
Da capital paraibana, João Pessoa, Olímpia recebe pela primeira vez o Grupo EITA de Projeções Folclóricas, criado em 2009 com o objetivo de incentivar a pesquisa e o aprofundamento sobre as danças populares da Paraíba, elevando ainda mais o pensamento artístico do povo e fortalecendo as raízes culturais. O nome “EITA” foi escolhido por vir de uma forte expressão popular presente no vocabulário dos paraibanos e nordestinos de um modo geral. O quadro de danças do grupo é composto por diversas manifestações populares, como Boi de reis, Xaxado da Paraíba, Cocos de roda, dentre outros.
ALAGOAS
Por fim, selando a participação do Nordeste, outra presença inédita que abrilhantará o 59º Festival do Folclore de Olímpia é o grupo alagoano de Coco de Roda “Reviver”, de Maceió – AL. Criado em 2000, o objetivo do grupo é manter viva uma tradição, bem como atuar no desenvolvimento social, auxiliando na formação dos jovens. O nome “Reviver” é uma homenagem a um componente que faleceu, como forma de mantê-lo vivo na memória. O coco de roda é uma manifestação que tem papel fundamental na formação histórica-cultural da identidade brasileira, especialmente a nordestina e foi oficializado como um dos Patrimônios Culturais e Imateriais da Paraíba. O Grupo Reviver é ainda o atual campeão alagoano (2022) de Coco de Roda, uma dança com influência africana e indígena, executada em pares, fileiras ou rodas durantes as festividades juninas do nordeste. O som característico do coco vem de quatro instrumentos (ganzá, surdo, pandeiro e triângulo), além dos tamancos de madeira e da cadência das palmas.
O EVENTO
O 59º Festival do Folclore de Olímpia é uma realização da Prefeitura, por meio da secretaria de Turismo e Cultura, com apoio do projeto do Governo do Estado, ProAC, da Associação Olímpia para Todos, apoio institucional da TV Tem e do Portal Temmais.com e patrocínio de empresas olimpienses. A entrada é gratuita e a programação completa será divulgada em breve nos canais oficiais.