A atual onda intitulada “lifelong learning” – educação ou formação continuada – tenta preencher, ou modificar, um antigo processo de reconhecimento e uma excessiva valorização da educação formal. Era bastante comum que muitos profissionais, ao concluir seus cursos de graduação ou uma pós, se considerassem preparados para toda uma vida. Descartando a ideia de que autodesenvolvimento é algo permanente, e que envolve todos os papéis que vivemos, paralelamente ao profissional.
O que se constatava era uma excessiva valorização da estrutura formal de educação, baseada no diploma, também apoiada pelo conceito de ‘”férias”, considerada como uma “merecida pausa” no processo de aprendizagem. Também era muito comum que profissionais, uma vez empregados, atribuíssem às corporações a responsabilidade pelo seu desenvolvimento – por meio de treinamentos, mentoria, autoajuda, eventos e outros mecanismos didáticos na oferta de conhecimento necessário aos seus colaboradores.
Raras eram as metodologias, ou processos formais, que tornavam o indivíduo como o verdadeiro responsável pelo seu processo de autodesenvolvimento. A “andragogia” – método de aprendizagem do adulto – torna muito clara a importância de uma revisão do que caracterizava o universo da educação formal. Ou seja: ao invés de apenas expor conteúdo, que era considerado vital, exclusivo e importante para o indivíduo, não havia estímulo para que ele próprio desenvolvesse um espírito crítico. Um senso de curiosidade na busca de uma conduta mais reflexiva, com novas perguntas e respostas. Mais inquietude.
Entre as muitas mudanças que estão ocorrendo em nossa sociedade podemos destacar duas. A primeira é o aumento do índice de longevidade. Isso exige ter um projeto de vida para esta nova etapa, especialmente se consideramos que ela está se prolongando cada dia mais. Além disso, muitas profissões ou carreiras estão desaparecendo, com o surgimento de novas áreas que exigem conhecimentos e habilidades renovadas.
Diante desse cenário, um dos hábitos que deve ser desenvolvido por todos nós é o aumento no acesso aos meios de informação e comunicação. Leituras, reflexões, diálogo, consultas às mais diferentes mídias, evitando se apegar a apenas a um meio ou linha de pensamento.
Registro aqui o alerta do escritor e historiador israelense Yuval Noah Harari em seu último livro “21 lições para o século 21”: “Quanto mais duro se trabalhou para construir alguma coisa, mais difícil é deixá-la ir embora e abrir espaço para algo novo. Mas, no século XXI dificilmente você pode se permitir ter estabilidade. Se tentar se agarrar a alguma identidade, algum emprego ou alguma visão de mundo estável, estará se arriscando a ser deixado para trás quando o mundo passar voando por você. Como a expectativa de vida está aumentando, você poderia ter de passar muitas décadas como um fóssil. Para continuar relevante – não só economicamente, mas acima de tudo socialmente – você vai precisar aprender a se reinventar o tempo inteiro, numa idade tão jovem como a dos cinquenta anos.”
Ele conclui dizendo que “para sobreviver e progredir num mundo assim, você vai precisar de muita flexibilidade mental e de grandes reservas de equilíbrio emocional.”
Reitero que, se manter em dia, nos diferentes papéis que vivemos – profissional, conjugal, familiar, social, educacional, espiritual – presume que devemos voltar à Escola da Vida, sem contar com falsos e enganosos diplomas e, menos ainda, imaginando poder sair de férias. Nada muito diferente do que já pregavam os filósofos gregos. E nada disso é delegável. Cabe a cada um assumir a sua individualidade.
*Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho da höft consultoria. Autor de livros sobre empresas familiares, sociedades empresariais e qualidade de vida
https://valor.globo.com/carreira/coluna/escola-da-vida-nao-tem-diploma-ou-ferias.ghtml