A luta dos profissionais da saúde para desmistificar os tabus acerca da saúde dos homens é de longa data, especialmente no que diz respeito ao diagnóstico de tumores masculinos e aos exames preventivos. Isso porque, historicamente, os homens não adquiriram o hábito de observarem certos sinais do corpo que podem ser indicadores de doenças mais graves, além de não manterem as consultas e os exames em dia com mais disciplina.
O INCA estima que no triênio 2020-2022 serão 65.840 novos casos de câncer de próstata por ano no Brasil – o segundo tipo de tumor mais incidente nos homens – ficando atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. Ainda segundo o Instituto, cerca de 75% dos casos no mundo acontecem a partir dos 65 anos de idade.
Há alguns fatores relevantes que podem colaborar com o desenvolvimento de tumores e que merecem atenção dos pacientes, como a idade e o histórico familiar. De acordo com o Dr. Andrey Soares, oncologista do CPO Oncoclínicas, os homens que fazem parte do grupo de risco devem iniciar os exames por volta dos 45 anos. “Pessoas com mutações familiares e com predisposição genética para o câncer de próstata, assim como homens negros e aqueles que têm parentes próximos que já passaram pela doença, precisam ficar mais atentos devido a maior chance, estatisticamente, de desenvolverem tumores”, afirma Dr. Andrey.
Apesar do câncer de próstata ser um dos mais incidentes entre a população masculina no Brasil – e por isso, o que recebe mais destaque em campanhas de conscientização – há outros tumores que os homens devem ficar atentos, como o câncer de testículo, que corresponde a 5% do total de casos de câncer entre o gênero, de acordo o INCA.
“Diferente dos outros tipos de câncer, ele tem alto índice de desenvolvimento em pessoas mais jovens, dos 15 aos 50 anos. Nessa fase, há chance de ser confundido, ou até mesmo mascarado, por orquiepididimites (inflamação dos testículos e dos epidídimos, canais localizados atrás dos testículos e que coletam e carregam o esperma) geralmente transmitidas sexualmente. Além disso, a doença tem características importantes que podem definir o prognóstico do paciente: a possibilidade de apresentar um crescimento anormal das células muito rapidamente, o que aumenta as chances de metástase no pulmão, fígado e ossos. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental para garantir maior chance no sucesso do tratamento , explica Dr. Andrey.
Confira a seguir mais informações que todos os homens devem saber tumores masculinos, esclarecidas pelo Dr. Andrey Soares, oncologista do CPO Oncoclínicas:
Existe alguma forma de prevenção do câncer de próstata?
Diferente de outros tipos de tumor, não há comprovação científica de que hábitos de vida evitáveis seriam efetivos na redução do risco de desenvolver a doença. Ainda assim, há indicativos de que uma alimentação equilibrada e prática de exercícios físicos são aliadas da saúde e, portanto, não devem ser ignoradas como ações efetivas para o bem estar masculino em todas as idades.
“Há uma associação – ainda que pequena – entre atividade física e a diminuição de chances de aparecer câncer de próstata. Ainda que não haja conclusões mais detalhadas sobre a associação dos hábitos de vida e a incidência desta tipo de tumor masculino, o INCA e o Ministério da Saúde concordam que uma rotina saudável, alimentação balanceada e outros fatores ligados ao bem-estar podem ajudar na prevenção não só deste, como de diversos outros tipos de carcinomas”, pontua Andrey Soares.
Os tumores masculinos surgem somente em homens mais velhos?
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre o gênero masculino (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). Esse tipo de tumor atinge cerca de 75% dos homens com 65 anos. De acordo com o especialista, um dos fatores que levam a descoberta do tumor já em estágio avançado, é a questão da barreira sociocultural a ser superada.
“A maior dificuldade para os homens é aceitar que devem manter o acompanhamento médico e os exames em dia para prevenir a doença – especialmente a partir dos 50 anos, que necessitam mais de um olhar individualizado. Infelizmente, o público masculino tem mais dificuldades em compartilhar suas fragilidades e ainda há muito preconceito com o exame de toque retal, que dura menos de um minuto, é indolor e capaz de detectar o tumor precocemente. Por conta disso, muitos homens solicitam aos seus médicos apenas o exame de sangue, o que não é o suficiente para fechar um diagnóstico”, explica Dr. Andrey.
Já o câncer de testículo, apesar de ser considerado raro, afeta de forma mais frequente homens com idade entre 15 a 50 anos. De acordo com o INCA, esse tipo de tumor é responsável por cerca de 5% do total de casos. “Os sintomas mais comuns são aumento do testículo e/ou dor. É muito comum que os homens o descubram no banho, durante a higiene, por isso o autoexame da área é a melhor forma de garantir uma possível detecção precoce de qualquer alteração”, comenta o Dr. Andrey. Ainda de acordo com o especialista, se diagnosticado em fase inicial é possível ter cerca de 90% de chance de sucesso no tratamento, mas a barreira do preconceito ainda precisa ser superada.
Assim como o tumor testicular, o câncer de pênis também é considerado um tumor raro, porém, com maior incidência em homens a partir dos 50 anos, embora possa atingir também os mais jovens. “No Brasil, esse tipo de tumor representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem a população masculina. Apesar do câncer de pênis ser ainda pouco falado, é responsável por mais de mil amputações por ano no Brasil”, diz o especialista.
Quais são os sintomas que os homens devem ficar atentos?
O câncer de próstata não costuma apresentar sintomas até estágios mais avançados. Por isso, é recomendada a visita anual ao urologista para que seja feita uma detecção precoce não só do câncer, como de outras doenças da próstata. “Caso o paciente apresente sintomas, os mais comuns são a dificuldade de urinar, sangue e diminuição do jato de urina ou necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite. No entanto, nem sempre esses sintomas indicarão a presença de câncer, já que podem estar associados a um aumento benigno da próstata, conhecida como hiperplasia benigna”, explica Dr. Andrey.
Já o câncer de testículo é caracterizado pela presença de massa escrotal ou de um nódulo duro e é indolor. No entanto, alguns pacientes podem apresentar dor no endurecimento dos testículos e em alguns casos, aumento do volume ou sensibilidade da mama. Alguns sintomas inflamatórios, como inchaço, dor e aumento da temperatura dos testículos também podem ocorrer.
No caso do câncer de pênis, os sintomas podem ser bastante visíveis. Os mais comuns são mudanças na pele – a área fica mais grossa, com alteração de cor e pode apresentar nódulo, ferida que sangra ou não cicatriza e erupção cutânea vermelha sob o prepúcio. A cabeça do pênis pode apresentar inchaço e quando o tumor alcança os gânglios linfáticos, a virilha também pode desenvolver nódulos.
É possível preservar a fertilidade mesmo após o câncer?
Nos casos de pacientes mais jovens e ssem filhos, a fertilidade é um fator que pode gerar uma grande preocupação durante o tratamento oncológico. Por isso, tirar dúvidas e manter uma boa comunicação com o oncologista e com toda a equipe multidisciplinar é fundamental para se manter bem informado sobre o impacto dos medicamentos no organismo
Alguns exames podem ser oferecidos aos pacientes do sexo masculino, como a realização de análises de sêmen para testar a contagem e qualidade dos espermatozóides antes da radioterapia e/ou quimioterapia. Além disso, o método clínico atualmente disponível para preservação de fertilidade nestes pacientes é a criopreservação de espermatozóides (congelamento do sêmen), em que amostras são armazenadas em tanques de nitrogênio líquido por tempo indeterminado – o que é recomendado especialmente para pacientes com câncer de testículo.
A cirurgia de câncer de testículo pode deixar sequelas?
A única sequela pode estar relacionada à fertilidade, que pode ser prejudicada. Em alguns casos, há a necessidade de reposição hormonal. No entanto, raramente ocorre algum dano na função sexual. Em relação à estética, são utilizadas próteses testiculares de silicone implantadas no ato da retirada do testículo sem deixar cicatrizes e imperceptíveis visualmente quando comparadas ao testículo normal.
Fonte: Dr. Andrey Soares, Oncologista do CPO Oncoclínicas